"É a vida, mais que a morte, a que não tem limites."

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

CONTOS DE FADAS


Meus pais foram liberais dos anos 70 e queriam dar a mim e a minha irmã a liberdade de escolhermos nossa religião quando crescêssemos, de forma que não nos batizaram. Isso desencadeou uma "conspiração" familiar, que levou meus avós paternos a nos batizarem "às escondidas" e escolherem eles mesmos nossos padrinhos.


Coube-me como padrinho meu avô. Figura masculina mais importante da minha infância, ele sempre foi tanto que o status de padrinho nada lhe acrescentou. Minha madrinha era quieta, uma dessas tias solteironas e beatas. O único brinquedo que me recordo de ganhar dela foi uma lanterninha verde, que aliás, nunca funcionou. No entanto, ela me deu aulas de catecismo, me ensinou algumas orações e, principalmente, sempre mandava rezar uma missa em minha intenção nos meus aniversários e Natal. Ela faleceu faz alguns anos e desconfio que essas missas e suas orações me fazem muita falta...

Minha irmã teve como padrinhos um casal de parentes, ele irmão da minha avó, creio. O tio faleceu logo, mas a tia era figura encantadora. Naquele tempo, crianças podiam andar na rua sozinhas e sem dizer aonde iam, e desde os meus 8 anos, eu ia muitas vezes à casa dela. Sobradinho pequeno, dois andares de cômodos enfeitados, quarto com sacada.... Parecia uma casinha de bonecas, e eu ficava horas, em paz, brincando com um caixinha de botões e bijuterias.  Essa tia querida era dessas poucas pessoas que encontramos durante a vida na companhia de quem nos sentimos confortáveis no silêncio.

Em uma de minhas última visitas a ela, cheguei como sempre de surpresa, sem avisar. Havia com ela um rapaz bem novo, sobre a mesa um bolo e champagne, e ela, muito feliz, me disse:

- que bom que você veio, será a única convidada do nosso casamento.

Comi o bolo, brinquei, conversamos, me despedi com naturalidade, e ainda hoje fico feliz por saber que minha reação deva tê-la deixado feliz. Claro que quando cheguei na casa dos meus avós com a "novidade" do casamento, fui informada que não deveria mais ir lá por motivos morais que não me recordo, já que não devo ter prestado atenção na hora. Meus pais não endossaram a proibição, e fui ainda à casa dela, agora deles, mais algumas ocasiões, até que ela se mudou de cidade devido à pressão e preconceito. Tive poucas notícias dela, até sua morte, mas soube que foi feliz.

Essa madrinha da minha irmã deu a ela em um aniversário um livro que me pareceu, então, o mais lindo do mundo: A Sereiazinha, de Hans Christian Andersen. Meus contos de fadas preferidos são de Andersen: além desse, A Rainha da Neve e Os Cisnes Selvagens. E ainda uma menção honrosa para A Pequena Vendedora de Fósforos e O Rouxinol.

O conto de Andersen nada tem a  ver com o desenho da Disney, muito bonitinho, mas sem a profundidade do original. Coloquei a história, com alguma adaptação, no post abaixo. Acho que é um tanto triste pelos padrões atuais, e sempre achei que foi-lhe exigido demasiado sacrifício. Mas encantei-me desde sempre com a pequena sereia que sente-se deslocada no mundo que conhece, enfrenta o perigo e a dor em busca do que almeja e ama desejando que o outro seja feliz.


7 comentários:

Laura disse...

Nina,
adoro o jeito que você escreve, parece que estamos vivendo as coisas junto com você e ao mesmo tempo sentindo saudades.

Bjinho

Danny disse...

Oi Nina, eu adorava ler a história da vendedora de fósforos quando era pequena, é uma história triste né mas eu adorava ler.
E vc como está??? E sua linda menina???
Espero que estejam bem!
Bjs flor e bom findi!

Nina disse...

Concordo com a Laura mais em cima,Nina querida, vc escreve e nos leva junto pela mao.

Achei uma barato a atitude dos teus avós de batizarem vcs às escondidas, nao que pra mim seja algo mt importante, já que tbm nao sou católica, mas os rituais de oracao, ainda me encantam, desde mt menina e as lembrancas ficam mesmo, pra sempre.

Bjs pra ti e pra tua menininha

Unknown disse...

Que delícia! Se palavras fossem comida, as suas seriam um bolo de morango, coberto de chantilim. Muito lindo. Meus parabéns!

Nina disse...

Laura,

Obrigada! Volte sempre,

Bjo


Danny,

ah, essa é uma das minhas preferidas, é triste mas é linda!

Bjo para vcs!

Nina disse...

Nina,

Obrigada!
Eu tenho lembranças preciosas de tardes passadas na Igreja com minha avó, arrumando o altar do Santíssimo, até hoje é o lugar que mais sinto paz para rezar.

Bjos


Edson,

Obrigada!
Volte sempre,

bjo

Eu só queria dizer... disse...

Primeira vez no seu blog....
E 'sabe, eu tenho o livro a vendedora de fósforos... A pessoa mais linda q eu conheço me deu, a minha mãe... Esse dias o encontrei no meio de outros livros... Mta saudades!
Adorei o blog!
Bjusss

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