"É a vida, mais que a morte, a que não tem limites."

segunda-feira, 13 de maio de 2013

ABISMOS


A gente pensa que o amor não tem fim, mas ele acaba. 
Meus amores se transmudaram em ternura ou indiferença, mas foram todos finitos. 
Indago-me se eu me transbordo tanto que esgoto o amor. Tenho sempre essa curiosidade, esses anseios. Eu me preencho do outro a tal ponto que muitas vezes senti alívio na hora de me despedir, de sair para trabalhar, de voltar para casa. Gosto sempre de ter meus espaços, meu tempo sozinha, sufoca-me um amor que não me deixe nunca. Toda a minha vida é feita de desvios, de exílios voluntários.
Ou seja talvez uma espera pelo que está por vir. Mas se o caminho é muito reto, eu saio da estrada...
Quero sempre um pouco de abandono.

Imagem daqui

sexta-feira, 19 de abril de 2013

SFOGARSI


É quando se vêm à tona que surge o risco de se afogar. 

Sorvo o ar e me invade a vida. Havia luz à superfície e, por um breve instante, fui tentada pelo pressentimento da cumplicidade duradora. Mas ouvi o alerta e recuo, me entregando toda. Sei da fascinação do mistério, contudo, pressinto o perigo e esgoto-me toda em um dia.

Escondo-me novamente nas palavras. Aqueles que são oceano nunca deixam de sentir o gosto de sal.   


terça-feira, 9 de abril de 2013

SEMENTE

Quando comecei a escrever o blog, ela era uma menininha só com dentes de leite.
Hoje eu a levei à médica, porque apareceu um carocinho e dores no peito. Não era nada. Ou é tudo. Ela cresceu, simples assim.
Telarca, me disse a doutora. Minha menina segue saudável e firme no caminho de crescer e ser a mulher forte e independente que eu desejo que ela seja. Segue no caminho de ser o que ELA vai querer ser.
E enquanto eu, em segredo, já sinto saudades da criança que está ainda à minha frente, ela se olha no espelho, linda, ansiosa, confiante.
- Mas filha, por que você está tão feliz?
- Mãe, agora eu tenho certeza que vou ser igual à você!
E eu choro.


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

DESOLAÇÃO


Fui dormir às 5 da manhã porque estava sozinha e tenho medo da casa vazia. Com minha menina fora, fico desabitada. 
Acordei cedo e despertei para a tragédia dos jovens mortos no incêndio na boate em Santa Maria. 
Não há reparação possível para a morte de um filho. No olhar de todas as pessoas que encontro, vejo o mesmo entendimento e o mesmo medo. A dor da perda insuprível, pode ser expressada? 
Meu desespero é mudo. Passei o dia no silêncio do luto.
Minha filha voltou para casa ao entardecer. Para os pais de mais de 200 jovens, é a noite eterna.



Funeral Blues
W H Auden

Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come. 

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He Is Dead,
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves. 

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last for ever: I was wrong.

The stars are not wanted now: put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean and sweep up the wood.
For nothing now can ever come to any good.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

TATUAGEM

Palimpsesto.
Quando criança, eu gostava de ler dicionários, e fiquei fascinada por essa palavra. Era o que eu queria ser. Capaz de apagar antigas histórias e escrever novas, e nada restaria além da sombra do passado. 
Mas em mim, tudo fica tatuado. Permanece. 
Sou toda feita de marcas e memórias eternas.


Imagem daqui

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