"É a vida, mais que a morte, a que não tem limites."

terça-feira, 14 de julho de 2009

PLURAL

Pessoas são como paisagens. Existem em todas as formas.

Eu gosto de heterogeneidade. Acho que tudo o que é diferente de nós, acrescenta. Quando vivíamos na Ilha, eu me preocupava porque minha filha convivia com pessoas muito semelhantes a ela em tudo. Minha menina agora conhece pessoas de todas as cores, religões, classes sociais. Conhece, convive e gosta. Este é um dos motivos, aliás, pelos quais prefiro as pequenas cidades às grandes. Paradoxalmente, nas grandes cidades, as pessoas tendem a conviver em guetos, sem se misturarem. E o medo do diferente tem levado ao isolamento dos condomínos fechados, à vida estéril e ilusória de crescer protegido de realidades distintas. No interior, ainda existe a possibilidade do convívio com o outro que não se assemelha a mim. Eu gosto de praças, gosto das regiões centrais, gosto das praias onde todos se encontram e estranhos podem se tornar amigos. Quem teme o diferente, é porque não se acostumou a conviver com ele. O que recebemos de novo, nos acrescenta e nos impulsiona.
Igual é mais do mesmo. E eu quero ir sempre além.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

AMPULHETA

A infância é um ponto de exclamação. Crescer é tornar-se para sempre uma interrogação.

Só se sabe tudo quando se é criança. Melhor ter medo da escuridão do que tê-lo do futuro! Tenho saudades de quando os dias eram longos e a vida, infinita...

Ao longo da nossa história, o importante é saber escolher, direito inalienável. Somos sempre inacabados. Empenhemo-nos, portanto, na tarefa de viver e fazer escolhas, cuidando para saber reconhecer aquilo que é essencial. É no caminho, na estrada, onde iremos encontrar (ou não) a felicidade.

Neste momento, só tenho de meu os sentimentos. Não possuir nada me torna livre, e paradoxalmente, me limita. Estou procurando, ainda, alcançar o meu lugar. Será que um dia paro de procurar, e encontro? Estou certa que não. Viver é sempre uma nova pergunta.

terça-feira, 7 de julho de 2009

"AS COISAS LINDAS SÃO MAIS LINDAS QUANDO VOCÊ ESTÁ"


Neste final de semana fui a um casamento.
A cara dos noivos, como tem que ser. Muito bonito, e também inusitado. Teve até votos de "sexo sem pudores" e um beijo gay no meio da pista de dança, já tarde da noite. Algumas pessoas ficaram chocadas, outras surpresas, outras, ainda, acharam tudo muito normal.

É muito bonito quando família e amigos se reúnem para desejar felicidades a um casal. Tenho a certeza que tantas vibrações positivas acabam, sim, acrescentando ao menos um pouquinho a mais de alegria à vida do novo par. A maior responsabilidade é deles, mas tanta gente junta querendo o bem algum resultado positivo há de dar...Eu fiquei contente por estar lá, entre tanta gente querida, partilhando comida, bebida, música e risos.

No fim da festa, minhas sobrinhas gêmeas de seis anos conversavam. A loira diz:

- Sabia que os números são infinitos? Infinito é coisa que nunca acaba, como o amor.

A morena, assertiva:

- Ah, não! Como o amor, não! O amor, às vezes acaba...

Minha menininha de cachos não se ligou muito na cerimônia ou ponderou sobre o amor. Quando perguntei sobre o que ela mais gostou, respondeu prontamente: da piscina e de brincar! E me perguntou se poderá levar a cestinha com as alianças quando eu me casar, visto que ela foi dama de honra em outra ocasião e gostou bastante! Como deve ser aos cinco anos de idade, não está ainda interessada em romances.

Mas eu sou mais complicada que minha menina. Menos romântica que minha sobrinha loira, tendo a concordar com a morena. E me peguei, mais uma vez, pensando nas belas palavras de São Paulo sobre o amor, lidas pela irmã da noiva na cerimônia:

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece, não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor jamais acaba; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos; mas, quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, pensava como menino; mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor.

Devia ser simples, o amor... Mas não é! Não é fácil, nem perfeito e nem sempre feliz. Mas é bom, ah, se é! O amor é sempre o todo, inteiro. Pleno ao se bastar em si mesmo. Porque não se deve amar esperando retribuição, embora, contraditoriamente, eu não acredite em amor não correspondido. Relacionar-se é sempre uma troca.
Amar verdadeiramente é mais raro do que deveria ser. Mas por isso mesmo, merece todo o cuidado e vale sempre a pena ser vivido plenamente.
"Tarefa pra gente grande, tanto quanto pode ser o coração de quem ama".



quarta-feira, 1 de julho de 2009

SERENDIPITY

Na minha vida, existem momentos que se aproximam daquilo que na língua inglesa se chama "serendipity", quando algo valioso que não está sendo procurado é descoberto. Quando ocorrem, sinto-me absolutamente feliz.

Esta experiência de felicidade total me aconteceu muitas vezes, mas é sempre inesperada. De repente, me dou conta que sou plenamente feliz. Nada me poderia ser acrescentado. Descubro subitamente coisas preciosas que estavam veladas. Percebo que minhas escolhas me trouxeram àquele instante e não importa o que me aconteça, é a minha maneira de reagir que vai determinar como isso me afeta.

Tenho a capacidade de reconhecer estes instantes quando acontecem e o cuidado de guardá-los na memória para sempre. Embora efêmeros, posso sempre recorrer às minhas lembranças para ter a certeza de que, logo ali, a felicidade total vai me encontrar novamente.

Procuro ensinar minha menina a reconhecer e a reter estes acontecimentos. Nas vezes em que estes presentes da vida acontecem quando estamos juntas, digo a ela para sentir a felicidade completa daquele momento. Em seguida, observar tudo ao redor: quem está lá, as cores, os sons, os cheiros. E então, fechar os olhos e guardar tudo, pra sempre. E o mais importante: agradecer a Deus.

Mas, pensando melhor, acho que as crianças sabem melhor do que ninguém o que é serendipity. Porque elas têm sempre este olhar de espanto para a vida, que lhes permite ver como novidade o cotidiano que as cerca. Por isso, estão sempre fazendo descobertas. Eu sei que, ao longo das lições da vida, perdi algo do meu assombro ao olhar o mundo. Mas tenho os olhos da minha filha para me lembrar de continuar a enxergar o encanto nunca findo da alegria que é viver.

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails