"É a vida, mais que a morte, a que não tem limites."

quarta-feira, 28 de julho de 2010

AFETO EM FRENTE AO MAR



Minha máquina fotográfica já era. Essa perda me deu o tema do post que pretendia escrever, sobre fotografar, lembranças, momentos importantes... Porém, acontecimentos e sentimentos têm me deixado triste e cansada por esses dias. Vou deixar, ainda uma vez, a música falar por mim. Eu poderia ter escrito essa...

Fotografia




Leoni
Composição: Leoni, Léo Jaime

Hoje o mar faz onda feito criança
No balanço calmo a gente descansa
Nessas horas dorme longe a lembrança
De ser feliz
Quando a tarde toma a gente nos braços
Sopra um vento que dissolve o cansaço
É o avesso do esforço que eu faço
Pra ser feliz
O que vai ficar na fotografia
São os laços invisíveis que havia
As cores, figuras, motivos
O sol passando sobre os amigos
Histórias, bebidas, sorrisos
E afeto em frente ao mar.
Quando as sombras vão ficando compridas
Enchendo a casa de silêncio e preguiça
Nessas horas é que Deus deixa pistas
Pra eu ser feliz
E quando o dia não passar de um retrato
Colorindo de saudade o meu quarto
Só aí vou ter certeza de fato
Que eu fui feliz
O que vai ficar na fotografia
São os laços invisíveis que havia
As cores, figuras, motivos
O sol passando sobre os amigos
Histórias, bebidas, sorrisos
E afeto em frente ao mar.


quinta-feira, 22 de julho de 2010

AS CANÇÕES QUE EU FAÇO

(Recebi um comentario tão bonito em resposta ao meu post "ALENTO" que decidi compartilhar com todos vocês. Obrigada, Roberto, por tão lindas palavras. Você já é um dos meus escritores preferidos!) 


Há quem tenha memórias tão remotas quanto a sua vida intra-uterina, como óvulos ou espermatozóides e, até mesmo, de vidas passadas.

Não sei se admiro ou se tenho medo desse tipo de gente!

Diria que minhas lembranças remotas são bem recentes, daí o meu espanto diante de quem jura ter assistido ao próprio parto ou coisa anterior.

Tenho uma recordação especial de minha infância que me é muito, muito querida e diz muito de mim.

Recordo-me, como se fosse há 15 minutos, que minha mãe me ninava cantando. Chego a ve-la, de bruços, me fazendo carinhos que só mães são capazes e, cantando.

Não sei se era afinada ou não, sei, somente, que o seu timbre me acalmava, aconchegava, me conduzia de volta ao preciso ventre, onde eu estivera protegido de tudo e de todos.

É a recordação mais remota que tenho de minha vida e, confesso, não sei se é uma recordação ou reprodução do que devo ter ouvido ainda criança.

O que importa é que esta cena é real e forte em minha memória. Vejo-me bebê e minha mãe a cantar, entre aconchegos maternos.

A essa altura, imagino a moça grande, de cachos, de mãos postas a indagar: - E daí! o que esse cara quer dizer com essa ladainha?

Antes que a moça crescida, de cachos, recuse o meu comentário, devo esclarecer a razão dessa longa e tediosa introduçào.

Assim como ela, música sempre fez parte de minha vida, e o primeiro episódio de sensibilidade à música se deu com a minha mãe cantando para me ninar.

A verdade é que ela cantava e eu me deliciava até que ela ameaçasse cantar "tristeza não tem fim... felicidade, sim". Bastava isso para que eu me descontrolasse em choro profundo e sentido.

Segundo me lembro ou me contaram, a experiência foi repetida e com os mesmos resultados. Reagia mal a essa música, como reajo até hoje. Não gosto de ouvi-la.

Deus, na distribuição dos talentos, infelizmente, não me deu o de compor, fazer ou tocar música. Reservou para mim o talento de ouvir e de aplaudir quem faz música.

Assim, sempre tive trilha sonora em minha vida. Parece bom, mas não é.

Quem se lembra do álbum de J. Lennon, lançado às vesperas de seu assassinato? Pois é... é um lindo álbum que não consigo mais ouvir, seja pelo que aconteceu a ele, seja pelo fato de ter coincidido com a morte de minha mãe, aquela que me ninava e mimava cantando.

Por outro lado, verdadeiras agressões à arte da música me são caras porque me remetem a situações da puberdade, inesquecíveis.

Podem rir, mas, até hoje, ouvir Loving You (com passarinhos e tudo) me arrepia. Serendipity!

Por outro lado, tristeza ou Pedaço de Mim, na voz de Zizi Possi, me fazem chorar em qualquer momento, situação ou circunstância.

Pedaço de Mim é algo que não ouso arriscar explicar, ou tentar compreender, apenas sinto, e sinto cada verso, cada frase, telvez, pela saudade da metade de mim que jamais conheci.

Por fim, há músicas que tomamos como nossas, que não tem relação com fato algum, apenas tocam o nosso sentir.





segunda-feira, 19 de julho de 2010

ALENTO

Minha vida sempre teve trilha sonora. Nunca ouço música impunemente.

Uma de minhas lembranças mais remotas é de parar de brincar para ouvir música. Criança estranha, gostava de Frank Sinatra, de Bossa Nova. A "Cavalgada das Valquírias" abastecia-me de entusiasmo. "João e Maria" traduzia meu faz de conta.

Fugindo ao clichê, no entanto, nem todos os meus amores tiveram a "nossa" música. Alguns foram cheiro, perfume. Outros, uma determinada hora do dia, ou tato, ou sons outros que não notas musicais. Há um quase-amor, esmaecido, que virou uma canção na luz de fim de tarde de um verão. E o maior de todos tem toda uma trilha sonora, que cresce ainda hoje.

Quando meu tio, irmão mais novo do meu pai, morreu de forma trágica, eu tinha cinco anos e fui, como as outras crianças, "protegida" da verdade, o que não evitou a dor. Confusa, mantida à distância, lembro-me do meu pai chorando e ouvindo música com fone de ouvido. Essa dor foi surda.


Também dói-me a música quando vai além dos sentidos para transformar-se em sentir. Porém, me arrebata, me toma inteira, me alegra, quando me faz acreditar. Serendipity.

Hoje vi minha menina puxar o canto na capoeira. Desafinada como a mãe. Para ela, ainda bebê, fiz uma cançao de ninar. Já coloquei a letra aqui no início do blog, mas hoje tenho a coragem de mostrar que canto para ela, que é todos os sons e todas as notas.



(Fiz esse vídeo alguns dias depois do seu primeiro aniversário. Hoje ela tem seis anos, e é ainda mais bela...)

EU GUARDO EM MIM TANTAS CANÇÕES

segunda-feira, 12 de julho de 2010

A DONA DO LABIRINTO

Maze - James Jean

Em uma de nossas conversas que atravessam a madrugada, um querido me sugeriu escrever sobre Ariadne. "Recolha seu novelo, e saia desse labirinto."

É bela a história de Ariadne. Ela amou Teseu à primeira vista, ao vê-lo no palácio do pai, voluntário para enfrentar a morte que parecia certa no labirinto do Minotauro. Bonita, decidida e inteligente, propôs a Teseu uma troca: ela o ensinaria a sair do labirinto, ele a levaria para Atenas para casarem-se. Ele aceitou e recebeu dela uma espada para matar o Minotauro, e um fio para encontrar o caminho de volta do labirinto. Segurando uma das pontas, ela o esperava na saída, quando ele retornou, vitorioso.
Mas Teseu não a amava, e a deixou, adormecida, em uma ilha no caminho de volta para Atenas. Abandonada, só, Ariadne se desespera ao acordar. Tocada por sua tristeza, Afrodite promete a ela um amor imortal. Esse amor materializa-se em Dionísio, que estava na mesma ilha e apaixona-se por Ariadne. Deus do prazer, do vinho, das festas, eles se amam enquanto dura sua vida mortal, numa celebração do amor e da alegria de viver. Após sua morte, o deus transforma a coroa que dera a Ariadne no casamento em uma linda constelação.

Há muitas e belas interpretações sobre esse mito, e meu querido gostaria que eu me lembrasse que é possível refazer nossas escolhas e aceitar os presentes que a vida nos dá. O que é verdade. Mas eu vou além. O que me chama a atenção na história é a presunção inicial de Ariadne, ao acreditar que poderia se fazer correspondida em seu amor por Teseu. Bonita, inteligente, amável, apaixonada, por que estaria ela errada? Porque o amor, como disse o poeta, é dado de graça. Não se troca. Amor é incondicional. Por isso, não condeno Teseu. Talvez ele próprio tenha querido amá-la... E foi ele, afinal, o fio que a conduziu ao amor de Dionísio. 

Somos todos, ao final das contas, condutores e conduzidos, perdidos em algum momento em nossos labirintos, esperando pelo amor que nos guie e nos resgate para a celebração da vida.


As sem-razões do amor


Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

(Carlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 6 de julho de 2010

UNPLUGGED


Arrumando as malas para viajar para as montanhas de Minas com minha filha e minha mãe, separei livro, notebook, internet portátil. Mas na hora de fechar as malas, deixei tudo isso de lado. Eu precisava de um tempo assim, de olhar para dentro de mim e para fora, para a vida real. Dias inteiros de olhos nos olhos e não nas letras, sem refúgios escapistas. E lá fomos nós, logo após a derrota do Brasil para a Holanda.
Foram 3 dias maravilhosos em Gonçalves/MG. Dias de ser mãe e de ser filha. Em uma cidadezinha  de morros e cercada de montanhas, bem como gosto. Mais importante, estivemos rodeadas de novos amigos. Fomos a um casamento único, daqueles de dar lágrimas nos olhos. Ainda mais especial porque a celebrante foi a minha mãe, escolhida pelos noivos, encantadora em suas palavras. E tudo estava lindo, pensado e feito com carinho. Eu há tempos queria conhecer o Kitanda Brasil, um restaurante que tem a alma da sua dona e os sabores da terra cultivada com amor. Eu, como sempre, logo comecei a fotografar tudo, desde os preparativos e... Minha máquina fotográfica pifou. Mistério das Minas Gerais...Muita energia, talvez... Ainda tentei usar o celular, mas não é que a bateria acabou após algumas fotos? Foi mesmo uma viagem para ficar eternizada lá onde ficam as coisas boas, na lembrança, e não escondida na memória do computador.
Minha menina foi um encanto. Ela cada vez me surpreende mais com sua sabedoria. Pensei tolamente que seria uma ótima oportunidade para conversar com ela sobre diferenças, já que havia muita coisa inusitada, pessoas diferentes. Porém, é ela quem sempre me ensina que somos todos iguais. Ela sequer estranhou o cardápio. Ao contrário, enquanto algumas crianças escapavam da festa para comer PF na praça, ela me pediu pra voltar para almoçar o menu degustação no dia seguinte. E lá fomos nós, cometer a quase heresia de comer com pressa o que é feito para ser apreciado devagar... Contudo, inesquecível. O Kitanda já está entre meus lugares preferidos de todo o mundo.

Voltei pra casa para enfrentar uma segunda-feira difícil, fortalecida pela minha pequena gourmet, que não se cansa de me mostrar que a vida é para ser saboreada. Com calma.



Reparou que tudo esse coador individual? Coisas do Kitanda...

quinta-feira, 1 de julho de 2010

ISSO NUNCA ME ACONTECEU ANTES

Isso nunca me aconteceu antes!
São essas experiências únicas, que fazem meu coração bater mais forte, as que costumam me acompanhar por mais tempo. Aquilo que parece diferente de tudo o mais, o que chega com a força do inevitável e a surpresa contraditória do predestinado. Costumo apegar-me a esses sentimentos como coisas extraordinárias, raras. Descarto-me do banal e agarro-me às minhas pequenas epifanias.

Mas... será mesmo assim? Observo minha filha encantar-se com cada instante. Toda experiência, mesmo repetida, é nova para ela. O trajeto para a escola, as brincadeiras, seus filmes preferidos. Outra vez e outra vez, o cotidiano a encanta. Não precisa buscar novidades, é o seu olhar que traz o mundo sempre renovado, a cada dia.

Então, me dou conta. Cada instante é único. Posso me descartar desse apego ao passado que me parece tão encantador, porém, está já distante. Posso encantar-me com o que já conheço, com o que está à minha frente. Há que se saber olhar. Isso nunca me aconteceu antes...

Minha menina me ensina outra lição. E quase sem perceber, dobro a esquina.


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