"É a vida, mais que a morte, a que não tem limites."

quinta-feira, 22 de julho de 2010

AS CANÇÕES QUE EU FAÇO

(Recebi um comentario tão bonito em resposta ao meu post "ALENTO" que decidi compartilhar com todos vocês. Obrigada, Roberto, por tão lindas palavras. Você já é um dos meus escritores preferidos!) 


Há quem tenha memórias tão remotas quanto a sua vida intra-uterina, como óvulos ou espermatozóides e, até mesmo, de vidas passadas.

Não sei se admiro ou se tenho medo desse tipo de gente!

Diria que minhas lembranças remotas são bem recentes, daí o meu espanto diante de quem jura ter assistido ao próprio parto ou coisa anterior.

Tenho uma recordação especial de minha infância que me é muito, muito querida e diz muito de mim.

Recordo-me, como se fosse há 15 minutos, que minha mãe me ninava cantando. Chego a ve-la, de bruços, me fazendo carinhos que só mães são capazes e, cantando.

Não sei se era afinada ou não, sei, somente, que o seu timbre me acalmava, aconchegava, me conduzia de volta ao preciso ventre, onde eu estivera protegido de tudo e de todos.

É a recordação mais remota que tenho de minha vida e, confesso, não sei se é uma recordação ou reprodução do que devo ter ouvido ainda criança.

O que importa é que esta cena é real e forte em minha memória. Vejo-me bebê e minha mãe a cantar, entre aconchegos maternos.

A essa altura, imagino a moça grande, de cachos, de mãos postas a indagar: - E daí! o que esse cara quer dizer com essa ladainha?

Antes que a moça crescida, de cachos, recuse o meu comentário, devo esclarecer a razão dessa longa e tediosa introduçào.

Assim como ela, música sempre fez parte de minha vida, e o primeiro episódio de sensibilidade à música se deu com a minha mãe cantando para me ninar.

A verdade é que ela cantava e eu me deliciava até que ela ameaçasse cantar "tristeza não tem fim... felicidade, sim". Bastava isso para que eu me descontrolasse em choro profundo e sentido.

Segundo me lembro ou me contaram, a experiência foi repetida e com os mesmos resultados. Reagia mal a essa música, como reajo até hoje. Não gosto de ouvi-la.

Deus, na distribuição dos talentos, infelizmente, não me deu o de compor, fazer ou tocar música. Reservou para mim o talento de ouvir e de aplaudir quem faz música.

Assim, sempre tive trilha sonora em minha vida. Parece bom, mas não é.

Quem se lembra do álbum de J. Lennon, lançado às vesperas de seu assassinato? Pois é... é um lindo álbum que não consigo mais ouvir, seja pelo que aconteceu a ele, seja pelo fato de ter coincidido com a morte de minha mãe, aquela que me ninava e mimava cantando.

Por outro lado, verdadeiras agressões à arte da música me são caras porque me remetem a situações da puberdade, inesquecíveis.

Podem rir, mas, até hoje, ouvir Loving You (com passarinhos e tudo) me arrepia. Serendipity!

Por outro lado, tristeza ou Pedaço de Mim, na voz de Zizi Possi, me fazem chorar em qualquer momento, situação ou circunstância.

Pedaço de Mim é algo que não ouso arriscar explicar, ou tentar compreender, apenas sinto, e sinto cada verso, cada frase, telvez, pela saudade da metade de mim que jamais conheci.

Por fim, há músicas que tomamos como nossas, que não tem relação com fato algum, apenas tocam o nosso sentir.





15 comentários:

3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Delicadíssimo. Um salve à delicadeza.

Beijos,

Bela - A Divorciada

Nina disse...

Roberto,

Quero ser a primeira a comentar e dizer, mais uma vez, o quanto gostei e achei belo o seu texto.

Que suas canções, alegres ou tristes, sejam sempre a expressão da sua busca, das suas verdades. E tenho a certeza que, lá do céu, sua mãe continua a lhe ninar. Junto à Mãe maior de todos nós.

Seja abençoado, seja feliz.

Beijo

Verônica disse...

Nina,

Você tem razão! Que belo!

RMG disse...

Nina,

Qua maldade você fez comigo, batizou o post com o título de uma música cuja letra, você bem sabe, tomei para mim, porque é o meu retrato.

Obrigado pela delicadeza, obrigado pelo cuidado, obrigado pelo carinho!

Beijo,

RMG

Nina disse...

Roberto,

Esse post é seu, é a sua canção, portanto...

Beijo

(sou eu quem agradeço, sempre.)

Patrícia disse...

Simplesmente LINDO!

Beijos

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Oi Nina, realmente o comentário foi fantástico e o post ficou super delicado.

Eu também tenho trilhas sonoras, que lembram momentos inesquecíveis, que todas as vezes que ouço parece que volto ao tempo da lembrança.
Acredito que a 'arte' tem esse dom de nos envolver, pois quando a obra chega ao apreciador ela deixa de ser apenas do seu autor para ser parte da vida do apreciador.

bjs, lindo post

Marcos disse...

Realmente um post comment muito bonito... eu não lembro da minha mãe cantando para mim, pois a realidade não cabia musicas para ninar, mas lembro dela segurando minha mão e ao meu lado noite e noite nas quais tive crises de bronquite...

Agora é fácil entender que até uma criança percebe que "tristeza tem fim sim!!" e reage da forma que sabe... chorando!

bjs

Nina disse...

Bela,

Salve!

bjo


Verônica,

Belo, belo, sim.

bjo

Nina disse...

Patrícia,

Concordamos, lindo!

bjo

Albuq,

Você disse um coisa sábia, a obra de arte é universal, e pertence ao criador e também aos apreciadores. Aquilo que é lembrado, é eterno...

Bjo

Nina disse...

Marcos,

Ah, lembranças maternas são sempre fortes e ternas... Bela a sua lembrança.

Quanto a mim, confesso que gosto da música que começa com "tristeza não fim", pelos versos abaixo, que acho tão lindos:

"A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite
Passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Prá que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor"

Bj

Tatiana disse...

Nina,
Adorei esse e os outros post desse autor.
bjinho

Anônimo disse...

Gostei muito do texto. Parabéns aos dois. Viva!

Flávia

Mariana disse...

Eu tenho 16 anos e venho sempre no seu blog, só que nunca comento. Você escreve tão bonito sobre o amor, tomara que você tenha um amor bonito como você, você merece esse comentário que o Roberto fez, ficou lindo e você eu acho que também deve ser linda.

Mariana

Nina disse...

Tatiana,

Também adoro o que o Roberto escreve.
Volte sempre,

bjo

Flávia,

Obrigada. Viva!

bjo

Mariana

Que graça seu comentário! Linda é você, escreva mais vezes.

bjo

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