"É a vida, mais que a morte, a que não tem limites."

domingo, 4 de dezembro de 2011

TEMPO DE DELICADEZAS

Estamos sendo cuidadas.

O conforto chega em telefonemas para o hospital, de madrugada. Em ajuda para a apresentação de ginástica. Em assumir problemas deixados por outro, e ocupar espaços importantes no coração de uma criança. Cuidado chega em chocolates, bonecas, e no gesto de cobrir quem adormeceu de cansaço. O cuidado se faz presente na distância e também se descortina lado a lado, no abraço. No olhar. Carinho que me encanta.

E porque  um tanto do fardo me é tirado, aumenta o espaço para que eu também cuide. Há mais espaço em mim para o melhor e mais belo. Também posso guardar melhor minha menina, pois estou mais tranquila e serena.  

O cuidado diz "eu amo você" sem palavras. Com carinho, com atenção, com discrição. Porque que ama cuida, inclusive, contra a inveja alheia.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

MAIS DO MESMO

A cidade onde moro é cortada por um rio. Todos os dias, para ir e voltar do trabalho, atravesso uma ponte sobre ele. É um rio de águas escuras, barrentas. Ainda assim, dia a dia me encanto com seus pássaros, suas margens, as mudanças causadas pela luz do sol. 
Ao por do sol, ele é sempre belo. Não resisto: faço, ao celular, fotos quase diárias do rio que imita o céu. As fotos, confesso, são ruins e pouco diferem entre si. Que me importa? Esse ritual tolo revela muito de mim. Aquilo que me encanta é belo, e nunca me cansa. Provoca sempre a sensação de primeira vez. Arrebata-me! Encontro sempre o novo no que amo, e desafia-me que seja sempre igual e nunca o mesmo.

Gosto de descobrir o desconhecido que já conheço.


terça-feira, 27 de setembro de 2011

APRENDIZ


Quando amei pela primeira vez, eu fiquei maravilhada! Encontrara a plenitude. Então, vieram as dificuldades, e pensei: "se o primeiro amor é assim, imagine os próximos!" E abri mão desse amor, segui em frente sem olhar para trás. Não sabia que amar é raro. Não sabia como é precioso se reconhecer no outro. Tive outras paixões, alguns acertos, erros e por fim, um relacionamento destrutivo. E passaram-se após o primeiro amor tantos anos quanto os que vivi antes de senti-lo para que eu amasse inteiramente outra vez. 

Agora conheço minhas marés e minhas profundezas. 
Entendi que a leveza está em ligar-se voluntariamente a alguém. Liberdade é escolher com quem se quer ficar junto, deixando a porta sempre aberta, pois liberdade cresce com mais liberdade. Também aprendi que a realidade é melhor que a fantasia. Importante é que a vida e o amor sejam vividos, consumados, esgotados. E quero acreditar que é possível desfrutar felicidades. Ser feliz! Eis algo novo e excitante para descobrir junto! Já fiz o caminho inverso: estar próximo nos momentos difíceis. Felicidade é a próxima aventura.

Aprendi a crer no infinito, e entendi que o futuro muda a cada instante. Já não tenho medo do que virá. Aceito, sem temor, o destino de amar e amar e amar. Entrego-me à emoção avassaladora, mas sem perder o controle da minha vida. Amo. Amo-me.

Amar não precisa ser fácil, mas tem que valer a pena.

Hokusai, A grande onda de Kanagawa

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

DICOTOMIA


Além da tristeza, tragédias me dão o sentimento de urgência.
E se não couber tanto amor? E se não houver tempo para tanta vida? 

Nesse momento, calma e paciência se fazem necessárias. É a pausa. Mas então vem esse susto, que traz consigo a vontade insatisfeita de abraços e pertencimentos. Estreito minha menina nos braços, e meu coração se alarga de esperas. 

O mar que existe dentro de mim se derrama.

(Enquanto isso, o céu se alegra ao receber Gabriela entre seus anjos mais belos.)

http://www.youtube.com/watch?v=XU6UdVI9B7I

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

CALEIDOSCÓPIO


Eu sou solar. Isso é o que todo mundo vê. Sorrisos, carinhos e cuidados. 

Mas desde criança me desloco entre mistérios. 
Gostava de ouvir música na sala trancada, nas festas, escondia-me embaixo das mesas para ler. Encantava-me com o que não se mostra, com os cantos, os silêncios. Muito cedo, descobri meu lado selvagem, e observava o mundo com olhos plácidos enquanto em mim era a tempestade, sempre. 
Busco o singular. Gosto do avesso, do torto, dos pequenos. Tenho preguiça de unanimidades. 
Dentro de mim, sou várias.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

ALCANCE

Existem intransponíveis solidões a dois. Há também as ausências acompanhadas. A distância pode ser mais, ou menos, que quilômetros a serem percorridos. Quanto a mim, trago sempre comigo aqueles que amo, porém, por vezes, mais é necessário. É preciso que os olhos encontrem o que o coração já sabe. Minhas mãos ficam mudas sem o abraço que é minha casa. 

É certo: existe o caminho a ser seguido, com a calma e paciência necessárias, e há, bem sei, alegrias à espreita. Não prescindo dos detalhes preciosos de nossa construção. Todavia, há ocasiões em que a poesia não basta:
Quero o simples e concreto ato de esticar o gesto, até lhe alcançar.


"Somos sempre levados para o caminho que desejamos percorrer." (textos judaicos)

http://www.youtube.com/watch?v=9WAc1aZO_58

terça-feira, 30 de agosto de 2011

AMAR

Viemos pelo céu, acima das nuvens. A chegada nos reservou uma surpresa, uma moça que se fez ainda mais linda. E ele estava lá... Tudo mudou, e nada mudou, na nossa longa história curta. Como no caminho que fizemos todos juntos, para um almoço de entrelinhas: nos perdemos, mas encontramos nosso rumo para casa. 

A menina chamou o mar, e ele veio.

Foi nessa noite, sem lua. Alguns dos encantos da praia escondidos entre vento e nuvens, minha menina, tal qual uma tartaruguinha, encontrou seu lugar, invocando o mar. E eu soube, definitivamente, quem sou. Tinha que ser à beira-mar, porque sou oceano sem fim.

Eu chamei o amor, e ele veio. 

‎" Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu" (Fernando Pessoa)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

CORAÇÕES ALEATÓRIOS

Não sei como começou. Acho que vem de antes do início. Quando ela nasceu, veio com uma marquinha em formato de coração nas costas. Quase inacreditável a perfeição. Ainda está lá, mas mal se vê agora.


Talvez venha daí o hábito que ela tem de procurar corações escondidos. Eles estão em todos os lugares: em um buraco, uma pedra, uma rachadura de calçada, uma mancha... Ela me tornou sua parceira nessa busca, de forma que treinei meu olhar para encontrá-los. O bom é que eles quase sempre permanecem onde estão, e às vezes mudamos nosso caminho para passar pelos nosso preferidos. Temos especial afeto por um buraco na parede que divide uma oficina mecânica de um salão paroquial. Como uma janela entre dois mundos. Gosto de fotografá-los, aleatórios, isolados, imperfeitos, até ganharem significado pelos nossos olhares cúmplices.

Há poesia. Há amor. Há beleza. Sempre.


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

domingo, 14 de agosto de 2011

NAUFRÁGIOS

Sou oceano e escondo naufrágios dentro de mim.

O brilho do sol na superfície confunde aqueles que não sabem me navegar. Somente os corajosos mergulham. Entram na minha escuridão, tão desorientados quanto eu. Mas lá, entre destroços de mim mesma, existem também tesouros, de brilho opaco, cansados de esperar, acomodados em sua ignorância.

Sou oceano. E vivo de presságios e medos marinheiros.

terça-feira, 19 de julho de 2011

O FIM?

Este é um espaço para eu falar do meu amor por minha filha e também sobre mim. Um lugar para preservar memórias amorosas. Pessoal e íntimo. Por isso mesmo, meio anônimo. Pessoas queridas sabem me encontrar aqui, mas me sinto triste ao saber que outras aqui vem para invadir o que só a poucos quero mostrar.

Esse desagrado tem sido a causa do meu silêncio. Talvez supere e volte a escrever. Talvez não...

Seja como for, o amor está em meu caminho e ao meu lado.

Obrigada a todos que aqui vem em paz. Sigam assim.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

SORTE!

Sou uma mulher de sorte.

Mesmo quando tudo dá errado, a vida vira de cabeça para baixo e parece que nunca mais vai voltar ao lugar. Quando estou cansada, cansada, cansada. O dinheiro falta, a compreensão me escapa e é pesado demais dar mais um passo. Só mais um.
Quer saber? Não importa. Porque eu tenho a menininha mais incrível, a filha mais linda. Exatamente como eu desejei e pedi. Que sempre me faz sorrir, que me abraça, e me inunda de felicidade.

É por você, filha, que eu sou a mulher mais sortuda do mundo.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

MUDANÇA DE ESTAÇÃO

Muito frio. Véspera de feriado santo. Eu e você, abraçadas e cobertas, contando piadas e rindo.
Você diz:
- A vida é muito boa!

O amor me aquece.

domingo, 29 de maio de 2011

REFLEXÃO

Com seus brinquedos, ela constrói um mundo. E é nela que eu me descubro.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O QUE NÃO SE VÊ

Estimulo minha menina a ser destemida, confiante e independente. O que significa cuidar para que ela não seja exposta precocemente à determinadas situações. Controlo e censuro (mesmo) programas de TV, jogos de computador, roupas e até conversas. Acredito que um adulto pleno é conseqüência de uma infância vivida intensamente. Muitas brincadeiras, muita fantasia, muita imaginação e criatividade, evitando rótulos, preconceitos, sexualização precoce e medos.

Ontem ela cansou-se cedo, bem antes do horário em que costuma dormir normalmente. Foi deitar-se sozinha, no outro extremo da casa. Como temos enfrentado um surto de dengue na cidade, após apagar a luz eu a avisei que iria fechar a porta do quarto.  Ela disse:

- Pode fechar, mãe. O escuro é igual ao claro. A diferença é que a gente não vê.

Por insistência de minha mãe, que dizia "coitada da criança trancada lá no escuro", cinco minutos depois voltei ao quarto: ela dormia em paz.

A vida não é só o que a gente vê.


(foto daqui)

terça-feira, 26 de abril de 2011

DESTINOS

     A princípio, busquei coisas grandiosas. Depois, amadureci e vi que era nas coisas simples que encontrava a felicidade que buscava. Por fim, não tive nem umas, nem outras. Reconheço, claro, que meu caminho foi conseqüência das minhas escolhas e erros, e muito eu faria diferente, se pudesse voltar atrás. 
      Para compensar tantos desacertos, tive minha menina como sempre quis. Assim, de graça, e tanto encanto nada tem a ver comigo. Sigo, entre cuidadosa e receosa, tentando não estragar aquilo que me veio pronto e lindo.


terça-feira, 19 de abril de 2011

"SE EU QUISER FALAR COM DEUS"

Já contei aqui sobre a liberalidade religiosa da minha casa. Atualmente, sou a única em casa que se declara católica, apesar de não concordar com muitos dos posicionamentos passados e presentes da Igreja. No entanto, Deus é presente em minha vida, e costumo rezar diariamente. Encontro paz em igrejas, especialmente quando vazias.
Passei alguns conceitos religiosos para minha menina, e rezamos juntas todas as noites antes de dormir. Ontem, em um desses momentos, perguntei a ela:

- Filha, você sente Deus presente em sua vida?
- Claro, mãe. Ele fala comigo o tempo todo. Sei que é Ele, porque é só sobre coisas boas e amor.

E ela me ensina, mais uma vez: é preciso saber ouvir para escutar.

"Jesus, porém, chamando-as para si, disse: Deixai vir a mim as crianças, e não as impeçais, porque de tais é o reino de Deus."


quinta-feira, 31 de março de 2011

A DANÇA

"Este é o dia mais feliz da minha vida!"
Já ouvi isso muitos vezes. Acompanhada por gargalhadas, pulos e palmas, essas declarações me mostram que minha menina é feliz.

Estávamos estudando quando começou a chover. Dessa vez, era uma tempestade. Raios, trovões e recorde de chuva. O barulho das pedrinhas me alertou, e eu a chamei para ver a novidade. Na varanda, nem precisamos chegar até o portão, o gelo empurrado pelo vento caía aos montes perto de nós. Ela recolheu um, outro, encantada com a primeira vez em que pegou granizo com as mãos. Entrei por uns minutos, e logo ouvi sons diferentes: era ela, que atraída pelas águas, pulava nas poças. Olhou-me entre desafiadora e tímida. Não pude resistir, e a incentivei a continuar. 

E ela, dançando, estendeu sua infância até me encontrar.


Este é o dia mais feliz da minha vida.


sexta-feira, 18 de março de 2011

INTIMIDADE

O silêncio confortável é o maior grau de intimidade que se pode ter com alguém. Quando se chega a esse ponto, de se entender sem palavras, de permitir ao outro ser dono dos seus pensamentos, se alcançou o amor tranquilo.
Um blog também pode ser feito de silêncios, acho. Já estamos juntos há algum tempo, e já sabem que eu me calo, mas volto. Está tudo bem à minha volta. Saúde, emprego, vida que segue. Mas dentro de mim é o oceano, sempre. Que às vezes se derrama, outras se recolhe.
Não estou longe, estou aqui. Estou aqui, mas estou longe.

Lado a lado, em silêncio, prosseguimos nossa conversa.


domingo, 20 de fevereiro de 2011

ESCONDERIJOS


Eu nunca coube inteira dentro de mim. Transbordo. Por isso, há momentos em que preciso me recolher.
Quando pequena, eu sempre tive meus esconderijos. A casa da minha avó tinha dois corredores  laterais, pouco usados. Eu gostava de ficar ali, ouvindo o movimento da casa, espectadora. Também gostava de um canto embaixo da escada, na minha casa, ou de ler na sala que ficava sempre trancada. Adoro estar rodeada pelas pessoas que gosto, mas minha alma se alimenta de silêncios.

Hoje, meus lugares secretos estão dentro de mim. Ainda me escondo, confiando ser encontrada.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

WONDERLAND

Depois de ser mãe, nunca mais eu me perguntei "por quê?". Agora é "por quem".
Por ela, sempre.
Faz sentido.


segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

"NÃO PRECISO DO FIM PARA CHEGAR"

Tem gente que passa a vida na cidade em que nasceu, casa-se com o primeiro namorado, é aprovada no concurso do Banco do Brasil aos 21 anos e assim segue a vida. Muitas vezes tenho inveja das pessoas feitas de certezas absolutas... Eu estou sempre de mudança, e de tanto deixar coisas e pessoas para trás, tornei-me em pedaços e dúvidas.

E foi assim janeiro, mês de fins, de rompimentos que sei definitivos, mesmo que tenha dito que eu continuo aqui. Mais uma vez, (de) partida.

Amanhã, muda tudo, de novo. Outra tentativa? Outro acerto? Não sei. Sei que para mim é difícil dizer adeus.  Prefiro ir partindo aos poucos, esgarçando-me, até ser como disse Manoel de Barros, poeta maior:

"Do lugar onde estou, eu já fui embora".



Eu Não Sou da Sua Rua
Composição: Branco Mello - Arnaldo Antunes
Eu não sou da sua rua,
Não sou o seu vizinho.
Eu moro muito longe, sozinho.
Estou aqui de passagem.
Eu não sou da sua rua,
Eu não falo a sua língua,
Minha vida é diferente da sua.
Estou aqui de passagem.
Esse mundo não é
Meu, esse mundo não é seu

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

PALIMPSESTO

Eu amo o cheiro das noites de verão. Cheiro da terra que libera o calor guardado durante o dia: de maneira preguiçosa enquanto a noite cai, ou violentamente sob a chuva. O verão é a minha estação, é a que constrói  minhas memórias afetivas. Basta o perfume da dama-da-noite para eu voltar à infância, onde cheiros, luzes e sons se misturam e sempre é o eterno pôr do sol de férias na praia ao mesmo tempo em que espio a tempestade da janela mais alta junto com minha mãe.




Minha menina vai fazer sete anos e espero que essas sejam as férias sobre as quais suas memórias serão construídas. Tivemos férias incríveis, nós duas junto a amigos queridos e generosos. Férias de ir à praia todos os dias, aprendendo com o mar que é sempre o mesmo e nunca igual. Férias de sol e águas transparentes, de caldos e capotes, de nadar sem roupa na chuva. Férias de pular no colchão, de dormir de cansaço, de Morango, de velhos sabores. Férias de aprender a fazer castelos de areia e descobrir que eles não duram, mas há sempre material para uma nova construção. Férias de passar a noite toda acordada conversando com quem já não está. Férias de café da manhã na cama, comida maravilhosa feita pelos amigos e do cachorro-quente mais caro do mundo! Férias de conhecer e reencontrar o Rio de Janeiro e criar novo significado para praia do Leblon.







E voltar para casa... Voltar e tentar fazer um ano verdadeiramente novo. Mudar a rota. Hoje, deitada na piscina com minha filha, o verão à nossa volta, olhando ora as nuvens, ora as estrelas, achei um novo norte.

"Mãe, as estrelas, mesmo quando se escondem, estão sempre ali para brilhar."



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