"É a vida, mais que a morte, a que não tem limites."

sexta-feira, 28 de maio de 2010

MÁQUINA DO TEMPO

"Mãe, já sei o que eu vou fazer quando crescer: construir uma máquina do tempo pra ir te conhecer quando criança."

segunda-feira, 24 de maio de 2010

AMOR

Rezo por minha filha todas as noites. Peço por saúde, felicidade, realização pessoal... E peço, sempre, para que ela tenha a felicidade de ser feliz no amor. Que ao se apaixonar, ela possa encontrar no amor também respeito, companheirismo, sinceridade, verdade.

Minha menina, ainda distante das delicias (e dores) do amor, vai encontrar um mundo em que os relacionamentos andam frágeis. Corre-se sempre o risco de trazer para as relações amorosas a mesma expectativa que temos em relação à tecnologia: querer sempre o mais novo, o mais bonito, o mais atualizado.  Buscar não apenas a satisfação pessoal, mas também ter alguém que se possa exibir. E na expectativa da novidade que seja melhor, ainda que se encontre o amor que se julgava buscar, a procura continua.

Mas amor não é jogo, não é medir forças, não é criar estratégias de conquista. Amar é chegar em casa, é reconhecer-se no outro, ao mesmo tempo que se deixa espaço para as diferenças. É um nunca se cansar de descobrir ternuras. Pode-se amar à primeira vista, mas para construir o amor, é preciso tempo e dedicação. É preciso paciência para que as lacunas deixadas pelas dúvidas sejam preenchidas com intimidade. Numa época feita de rapidez, tem sorte aquele que encontra alguém com quem possa conversar com calma, em quem se possa confiar, com quem se possa contar.

No entanto, os caminhos do amor devem sempre ser vias duplas. Levar ao outro e trazê-lo a si. O desequilíbrio dos quereres traz sofrimento. Amar ao outro como a si mesmo, e não mais do que a si mesmo, essa é a medida, o ponto de equilíbrio. Então, se há dor, é esse o fim? Deve ser esse o sinal de alerta para o fim do amor? Porém, é possível que nossa vontade comande nossas vontades?

Se não decidimos quando começamos a amar, podemos decidir quando deixar de amar?

Amor quer ser presença e não, lembrança.



Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

ALMA PEREGRINA


A impermanência é um dos princípios budistas que diz que tudo cessa. A vida é um ciclo constante de transformações. Tenho pensado na passagem do tempo e na impermanência.

A cada dia fico mais sensível a essas tantas mudanças. Observo minha filha crescer e admiro sua caminhada para tornar-se cada vez mais independente. Há alegria e também dor quando a vejo desprender-se de mim sempre um pouco mais, ao encontro do dia em que nossa relação será uma escolha e não uma necessidade. Eu a estimulo nesse caminho, apresento opções, algumas vezes abro mão de sairmos juntas para que ela possa estar com outras pessoas e construir novas relações. No entanto, nosso ritual ao acordar e ao dormir é dizer uma a outra, muitas e muitas vezes: "Minha filhinha". "Minha mãmãe". "Minha filhinha". "Minha mamãe". "Minha filhinha". "Minha mamãe"...

Observo também a passagem do tempo em mim. Como Cecília Meireles, às vezes busco minha face no espelho, sem reconhecê-la. São principalmente meus olhos que estranho, olhos de outrem, olhos de dor. Sinto saudades de mim mesma, nesses momentos. Da menina que acreditava. E penso no que ainda quero, naquilo que me falta. E sei que a resposta está em versos de Yeats:

How many loved your moments of glad grace,
And loved your beauty with love false or true;
But one man loved the pilgrim soul in you,
And loved the sorrows of your changing face.

Eis o meu desejo: alguém que enxergue minha alma peregrina, que não se cansa da busca, porém sabe que o caminho em si já é uma resposta. Alguém que escolha ficar quando chegar o momento de partir.

O que pára o tempo é o amor



(Para saber mais: Mandala e mandalas de areia)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

CAPOEIRA

Ela fazia balé. Um dia, cheguei para buscá-la e lá estava minha menina, toda descabelada, meia rasgada, sapatilhas sujas:

- Filha! O que é isso! Nem parece uma bailarina! Desse jeito, vou lhe tirar do balé e colocar na capoeira!

Ela, muito, muito feliz:

- Hoje, mãe?

E foi assim que o mundo perdeu uma bailarina e ganhou uma capoeirista.

O local onde ela faz as aulas é uma Academia muito antiga e tradicional na cidade. Um local bonito, mas meio mal conservado. O Mestre ensina não só a Capoeira, mas fala de história, de tradições, ensina música e instrumentos musicais da Capoeira. Esporte e cultura, de tal forma que uma hora e meia de aula freqüentemente se transformam em duas. É a coisa mais linda do mundo ver a alegria genuína dela ao treinar os golpes e jogar na roda. Concentrada, harmoniosa e bonita.

Na Academia é feito também um trabalho de inclusão social, de forma que no horário que ela freqüenta, a maioria dos alunos é bolsista. Gosto de ver que em todas as ocasiões em que minha filha se depara com o teoricamente diferente, ela aceita com naturalidade.

Ela sempre me lembra que não se trata de aceitar o diferente, mas ver a todos como iguais.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

SEGUE O TEU DESTINO



Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
           

Fernando Pessoa

(Odes de Ricardo Reis)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

RELICÁRIO

Esse é um texto escrito com tinta invisível. Apenas o destinatário tem o calor necessário para decifrar a mensagem. É para ser lido através das palavras, lembrando-se dos sons que substituíram aquilo que seria dito. Abro mão das letras para vestir-me de sentimentos.

Talvez esses espaços em branco venham a ser preenchidos pela felicidade que está por vir.

Talvez o vazio seja uma antecipação do deserto que me espera.

Há só uma coisa que deve ser registrada, gravada, incrustada: 

Seja feliz.



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