Nada grave, mas o suficiente. O suficiente para que eu queira que a dor dela seja minha. Para que eu a abrace com força, como se assim, pudesse roubar a febre que lhe furta os pulos e saltos.
Como me assusta a fragilidade dela. E esse medo me despoja um pouco de ternura, sou incisiva ao dar os remédios, ao fazê-la comer o mínimo, ao mantê-la sob o chuveiro para combater a febre.
Como me assusta a fragilidade dela. E esse medo me despoja um pouco de ternura, sou incisiva ao dar os remédios, ao fazê-la comer o mínimo, ao mantê-la sob o chuveiro para combater a febre.
E depois a abraço tanto, tanto... Eu ainda mais frágil do que ela. E deitamos assim, juntas, lendo uma história com monstros imaginários, que não me causam sobressaltos como a possibilidade dessa doença boba não ir embora. E então ela dorme, mas eu não. Tenho nos braços o que é mais importante, e velo por ela. Sou a guardiã dos seus sonhos, para manter afastados os pesadelos. E só quando a vejo sorrir, o mundo volta ao seu lugar.
Para ler quando se está doente: Coraline - Neil Gaiman
Para assistir, também: Coraline - Henry Selick
P.S. Dreamcatcher é um artefato dos índios Ojibwa (norte-americanos e canadenses). É um "filtro de sonhos", que mantém os pesadelos afastados