O brilho do sol na superfície confunde aqueles que não sabem me navegar. Somente os corajosos mergulham. Entram na minha escuridão, tão desorientados quanto eu. Mas lá, entre destroços de mim mesma, existem também tesouros, de brilho opaco, cansados de esperar, acomodados em sua ignorância.
Sou oceano. E vivo de presságios e medos marinheiros.
Este é um espaço para eu falar do meu amor por minha filha e também sobre mim. Um lugar para preservar memórias amorosas. Pessoal e íntimo. Por isso mesmo, meio anônimo. Pessoas queridas sabem me encontrar aqui, mas me sinto triste ao saber que outras aqui vem para invadir o que só a poucos quero mostrar.
Esse desagrado tem sido a causa do meu silêncio. Talvez supere e volte a escrever. Talvez não...
Seja como for, o amor está em meu caminho e ao meu lado.
Obrigada a todos que aqui vem em paz. Sigam assim.
Mesmo quando tudo dá errado, a vida vira de cabeça para baixo e parece que nunca mais vai voltar ao lugar. Quando estou cansada, cansada, cansada. O dinheiro falta, a compreensão me escapa e é pesado demais dar mais um passo. Só mais um.
Quer saber? Não importa. Porque eu tenho a menininha mais incrível, a filha mais linda. Exatamente como eu desejei e pedi. Que sempre me faz sorrir, que me abraça, e me inunda de felicidade.
É por você, filha, que eu sou a mulher mais sortuda do mundo.
Estimulo minha menina a ser destemida, confiante e independente. O que significa cuidar para que ela não seja exposta precocemente à determinadas situações. Controlo e censuro (mesmo) programas de TV, jogos de computador, roupas e até conversas. Acredito que um adulto pleno é conseqüência de uma infância vivida intensamente. Muitas brincadeiras, muita fantasia, muita imaginação e criatividade, evitando rótulos, preconceitos, sexualização precoce e medos.
Ontem ela cansou-se cedo, bem antes do horário em que costuma dormir normalmente. Foi deitar-se sozinha, no outro extremo da casa. Como temos enfrentado um surto de dengue na cidade, após apagar a luz eu a avisei que iria fechar a porta do quarto. Ela disse:
- Pode fechar, mãe. O escuro é igual ao claro. A diferença é que a gente não vê.
Por insistência de minha mãe, que dizia "coitada da criança trancada lá no escuro", cinco minutos depois voltei ao quarto: ela dormia em paz.