O Marcelo Pereira de Carvalho, meu amigo talentoso, esteve viajando pela Nova Zelândia e tirou fotos incríveis. Entre tantas, uma me chamou a atenção pela escolha técnica que ele fez. Uma paisagem maravilhosa, lago azul, montanhas, picos nevados... E ele decidiu-se por destacar singelas flores amarelas. Escolheu o primeiro plano.
Lake Hawea, Nova Zelândia, por Marcelo Pereira de Carvalho |
No meio de tantas imagens lindas, essa voltou à minha mente várias vezes. Bela metáfora da vida. Escolhas. Foco. Podemos decidir fixar nosso olhar no horizonte distante, visualizar o futuro que não chegou. Ou podemos prestar atenção na beleza por vezes oculta do momento presente.
Tenho entendido que quem se entrega a devaneios não vive, que se deixar levar é uma forma de escolha, passiva, que nos rouba a autonomia. A espera do por vir não pode se estender indefinidamente. Os desejos convergentes se ajustam, é no ponto de fuga que aprofundamos a verdade.
Paradoxal que pareça, é o olhar para o agora, o cuidado na escolha de hoje, que vão nos aproximar do horizonte. As flores perecem, mas as montanhas continuarão ali, a espera de serem conquistadas.
Sim, há essa dor, esse aperto no peito. O espanto dos olhos que não mais reconhecem o mundo. Há o vazio, o cansaço. A espera. À espera. Mas há, também, a recusa. Destino de outsider, não se conformar. Senhora dos meus labirintos, recuo e avanço, capaz, ainda, de me surpreender... E sigo a passos tortos, sem nada mais buscar, confiando ser encontrada.