Ano passado, foi a apresentação de balé. Roupas delicadas, ambiente refinado. Minha menina gostou de colocar roupinha de "boneca", de se maquiar. Gostou dos preparativos. Na apresentação, era importante que todas estivessem iguais, fazendo os mesmos movimentos. Platéia lotada de famílias orgulhosas. Um espetáculo para os que assistiam.
Esse ano, batizado na capoeira. Em poucos minutos, estava pronta. Calça e camiseta brancas, largas, confortáveis. O batizado foi na Academia. Música ao vivo, cantada por todos, tradicional. Muitos alunos, muitos professores, alguns mestres. Mas pouca platéia. Na roda, alegria de quem se apresentava. Um aluno e um mestre, iguais naquele momento do jogo. Dialogando em seus movimentos, um tentando surpreender o outro. Quando alguém faz algo inesperado, é aplaudido. Em volta, outros alunos e mestres não perdiam um movimento. A música marcando o ritmo, todos cantando. Um espetáculo para os que participaram.
Fico feliz que minha filha prefira aquilo que faz seus olhos brilharem mais do que os de quem assiste. Pois também na vida temos a escolha de sermos originais ou iguais. Fazer o espetáculo para a platéia, ou para nós e nossos parceiros. Olho no olho. Porém, sem nunca se esquecer, como se diz na capoeira: "quem está de fora, está vendo".
"Que Deus ilumine teus passos e te proteja na grande roda da vida!"
"Há tanta suavidade em nada se dizer, e tudo se entender."
(Fernando Pessoa)
Uma imagem vale mais que mil palavras? Hum, não sei. Como dizia um professor de redação, demonstre essa frase em uma imagem!
Mas sei que há gestos que dizem muito, e vão além. Da distância, do tempo, das palavras. Expressam, em sua delicadeza, o sentimento que se declara, ainda que não se tenha experimentando toda as possibilidades, toda a plenitude do que é desejado, mas não, possível. Ainda.
Já posso novamente registrar os momentos importantes da minha vida. Dessa vez, faltam, a mim, as palavras que pudessem expressar o tanto de alegria e felicidade que experimentei com o presente que recebi. Porém, sei o que senti, o que sinto, o que levo sempre junto a mim. Agora, outros olhos estarão sempre comigo.
Eis a janelinha da minha menina. E posso mostrar aqui porque ganhei uma máquina fotográfica nova. Obrigada, tanto, sempre!
A vida é agora, mas é também o que se foi, e o que virá.
Minha menina a cada dia se transforma. Agora vai perder o primeiro dente. Um novo marco, outra fase que fica para trás. Não é mais o bebê carequinha, nem a criancinha de cachos. É uma menininha de cabelos lisos e castanhos, que sabe ler, sabe escrever, dorme fora de casa, joga capoeira e, desconfio, descende dos peixes e não, do macaco. Ela mesma não se lembra de quase nada do que se foi. Vê fotos e vídeos de tão pouco tempo atrás e se espanta: "Essa sou eu? Eu estava lá? Eu já fiz isso?". Desembrulha seus dias sempre como um presente maravilhoso. Acorda acreditando em novidades.
Eu também já não sou mais o que fui. Não me reconheço. Mas aqui onde termino, é onde inicio. Tateando, caindo, aprendendo, percebo que o novo não vem sem mudança, sem espaço para chegar. Aquilo que se foi permanece em nós, às vezes como um marco na estrada que não queremos voltar a percorrer, outras como o farol que nos dá a esperança de prosseguir. É preciso esquecer um pouco do que fui para seguir sendo eu mesma, palimpsesto de emoções que se ocultam, mas não se esgotam.
Tudo se acaba, tudo passa. Mas no fim está o começo.
The Circle of Life (Tim Rice/Elton Jonh)
From the day we arrive on the planet And blinking, step into the sun There's more to be seen than can ever be seen More to do than can ever be done
Some say eat or be eaten Some say live and let live But all are agreed as they join the stampede You should never take more than you give
In the Circle of Life It's the wheel of fortune It's the leap of faith It's the band of hope Till we find our place On the path unwinding In the Circle, the Circle of Life
Some of us fall by the wayside And some of us soar to the stars And some of us sail through our troubles And some have to live with the scars
There's far too much to take in here More to find than can ever be found But the sun rolling high Through the sapphire sky Keeps the great and small on the endless round