Trago comigo paisagens internas.
A cidade em que passei boa parte da minha infância é dividida pela linha do trem e pelo rio que a corta. É também cercada de serras. Para chegar ao mar, é preciso atravessá-las.
Assim também minha vida pode ser dividida em linhas imaginárias que cruzei. Algumas vezes voltei, outras não. Lembro-me do dia em que a ponte mais bonita e antiga da cidade partiu-se ao meio e caiu. Eu também tive esse momento em que não foi mais possível voltar atrás porque não havia mais o caminho. Aquela que fui já não estava lá.
Agora, há montanhas dentro de mim. Não sei o que se oculta do outro lado, e ainda não decidi se quero cruzá-las e avistar o horizonte sem fim, ou me conformar com o lado de cá, seguro e sem surpresas. Há um certo cansaço em se reinventar constantemente, mas a conformidade sempre me pareceu uma espécie de derrota.
Porém, não sou montanha, sou oceano. E a vida me navega.