"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."
Nunca gostei dessa frase. Ela diz exatamente o contrário do que penso sobre o amor. Amor é liberdade, para si e para a pessoa amada. Cativo é escravo, e não quero aqueles que amo, ou que me amam, presos a mim. Tampouco quero assumir a responsabilidade pela vida alheia, pior ainda, pela eternidade afora... Quanto egoísmo há em amar alguém e entregar a ele a própria vida.
Essa visão de que amar é "pertencer a alguém" é bastante popular, eu sei. Há filmes, livros, poemas, músicas. Eleita "a música da década de 80", a linda melodia de "Every breath you take" do The Police, me causa falta de ar só de imaginar alguém me vigiando a cada vez que eu respiro. A cada vez que eu me movo...O próprio Sting, mais esperto e melhor casado, alguns anos depois cantou: "If you love somebody, set them free" (se você ama alguém, deixe-o livre). Djavan cantou: "vem me fazer feliz porque eu te amo". Para piorar, ainda completa "esqueço que amar é quase uma dor. Só sei viver se for por você." Como assim? Como dizem em inglês, get a life.
Amor - seja por quem for, Deus, pai, mãe, filhos, amigos, amantes, parceiros - é alegria, é doação desinteressada, é compartilhar e principalmente, agregar. Acrescentar descobertas e experiências à vida do outro e à minha. Amor é movimento, seguir em frente, desfrutar o caminho. Cuidar sem vigiar. E não, cativeiro.
Eu amo minha filha, sei que ela me ama. Mas não sou eu a responsável pela felicidade dela, embora seja uma das responsáveis por seu bem-estar, enquanto ela ainda é criança. E a melhor maneira de demonstrar meu amor por ela é ensiná-la a ser livre e a amar a si mesma. Só aquele que encontra a felicidade por si é capaz de dividi-la.